TEXTO DE ANA REGINA RÊGO



Ana Regina Rêgo é graduada em Jornalismo pela UFPI, possui mestrado em Comunicação e Cultura pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Doutorado em Comunicação pela Universidade Metodista de São Paulo, com estágio de doutorado na Universidade Autônoma de Barcelona.
Já exerceu as funções de Gerente Regional de Marketing e Comunicação da CAIXA Econômica Federal, Consultora Ad. Hoc. da Coordenadoria de Comunicação do Governo do Piauí, Coordenadora do curso de Jornalismo da Faculdade Santo Agostinho, Coordenadora Regional da ONG Moradia e Cidadania.
Atualmente, é Professora e Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPI, colunista do Jornal O Dia, Consultora Ad Hoc voluntária da Associação dos Amigos da Orquestra Sinfônica de Teresina e do Instituto de Comunicação e Cultura, além de Coordenadora do Projeto Memória do curso de Jornalismo e do Projeto Memória do Jornalismo Piauiense, este último, desenvolvido por meio da parceria entre o Núcleo de Pesquisa em Jornalismo e Comunicação (NUJOC-PPGCOM-UFPI) e Arquivo Público do Piauí.
Já lançou os livros: Imprensa Piauiense, atuação política no século XIX (2001), Jornalismo, Cultura e Poder ( 2007), Piauí, História Cultura e Patrimônio (2010) este organizado em parceira com Teresinha Queiroz e Cecília Mendes. Organizou ainda os livros Imprensa, Perfis e Contextos (2012) lançado pela Editora All Print de São Paulo, e, por último, Pensa.Com Piauí ( 2013) em parceira com José Marques de Melo, Samantha Castelo Branco e Graça Targino.

       TEXTO DE ANA REGINA RÊGO:

            Tenho assistido de longe aos problemas enfrentados por algumas Instituições que fazem parte do organograma do Governo do Piauí, principalmente, a FUNDAC- Fundação Cultural do Estado do Piauí  e o  que percebo no panorama que se nos apresenta é o descaso real para com o futuro dessas Instituições e portanto, para com os setores que elas representam.
            A desculpa para o descaso visível e real encontra-se na necessidade de negociações políticas objetivando possibilitar a governabilidade através da maioria na Assembleia Legislativa, assim como, contribuir para que a bancada federal também seja favorável ao governo. Nesse contexto, deputados eleitos tanto para o Legislativo Estadual como o Federal, se transformam em secretários ou assumem outros cargos no organograma do poder, o que por sua vez,  possibilita que  suplentes assumam nas duas casas, a estadual e a federal. É tanta troca que ficamos realmente sem saber quem de fato recebeu mandato do povo para legislar em seu nome, e quem foi aí colocado tão somente para facilitar a vida do governo.
            É ponto pacífico que a governabilidade se faz a partir de entendimentos entre os partidos que compõem governo e oposição, o que não significa que seja necessário implantar uma prática política predatória de troca de favores, da qual o próprio governo se torna refém, visto que criou vícios, condutas inapropriadas com o exercício de cargos públicos, ou seja, ofereceu vantagens no passado recente e  possibilitou que os opositores negociassem para além do apoio a projetos que sejam favoráveis à sociedade, mas também que pudessem negociar mais e mais vantagens que pelo visto ultrapassam o campo político e levam, muitos para os processos de corrupção.
            Essa conturbada via em busca da governabilidade possui entretanto, mão dupla, pois ao negociar apoio no legislativo, como também ao ter que cumprir com os acordos realizados durante a eleição, o Governo oferece cargos públicos a diversos partidos e seus representantes que indicam pessoas, muitas e muitas vezes, sem nenhuma ligação com o segmento e com a Instituição, ocasionando um descompasso entre a pensada governabilidade e a prática da gestão,  pois se considera primordialmente, os acordos políticos como necessários no âmbito das negociações para que sejam aprovados o orçamento, as leis e as mudanças administrativas, fiscais e outras, que se pretende fazer ao longo do mandato; contudo, se esquece  que cada instituição e cada segmento inserido no aparelho do Estado possui peculiaridades e necessidades e que suas instituições devem ser geridas por pessoas que pelo menos conhecem a conhecem e se interessam pelo segmento.
            O último gestor da FUNDAC, senhor Francis Lopes, detentor do recorde de menor tempo à frente da instituição mencionada, apesar de ser cantor, deu algumas entrevistas com declarações que demonstram o seu completo desconhecimento da Política Cultural, como dos programas e projetos desenvolvidos tanto a partir do âmbito federal quanto estadual. A sua principal função à frente da FUNDAC me parece que era formar parceria com o gestor da Fundação Cultural Monsenhor Chaves do município de Teresina, ambos cantores, ambos sem conhecimento dos processos de gestão do setor, ambos sem interesse em investir na própria formação a fim de realizarem boas gestões a frente das referidas fundações.
            Mas Francis Lopes saiu e os partidos para quem o governador Wellington Dias destinou a FUNDAC ( fala-se em cota de partido tal) debatem nomes, sem consultar quem vive de cultura, quem gosta de cultura e quem promove e leva a cultura do Piauí no braço.
            De fato senhor Governador, o cargo é político e como gestor o senhor pode dispor do mesmo, mas seria de bom tom e, sobretudo, favorável ao segmento que se ouvisse os envolvidos no setor cultural, pois de repente pode ser que existam bons nomes conhecedores das necessidades e dos caminhos da cultura, nos próprios partidos com os quais o senhor está negociando.
            Tenho conhecimento de que durante a campanha o partido eleito convidou artistas e articuladores culturais de sua base para fazer um Plano de Cultura e isso foi feito, mas após a eleição, esses nomes sequer foram considerados. Não há aí uma dissonância entre o discurso proferido e a prática política que se estabelece?
            Diante do exposto e de outras práticas que me recuso a comentar, somente lamento imensamente que em pleno século XXI, em que o campo cultural tem sido chamado quase em todo o globo, para o protagonismo da ação social e do próprio desenvolvimento; que nossos gestores tanto no âmbito estadual, como no âmbito municipal, continuem a tratar a cultura como um segmento a ser tolerado e onde se investe minimamente.
            Por outro lado, comemoro uma espécie de gestão paralela da cultura encampada pelos atores do campo cultural que cansaram de esperar pelo Estado e partem para suas realizações não só como artistas no campo pessoal, mas com ações direcionadas a sociedade. Para estes artistas, promotores, realizadores me curvo, me curvo, me curvo, porque só tenho a dizer muito obrigada.
            Somente para citar projetos recentes e que devem se tornar permanentes: Teatro e Biblioteca do Parque Jurema do artista de teatro Wilson Gomes de Sousa; Escola de Música Dona Gal no Parque Alvorada da instrumentista Wanya Sales, montada com violinos e outros instrumentos doados; O Grupo de Teatro Puty da atriz Sandra Loiola; Grupo de Dança Cordão criado pelo bailarino Roberto Freitas com alunos das escolas públicas da periferia de Teresina e que já possui 10 anos de existência.

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