Para uma Ética no Teatro.

 A ética no teatro:

Não Agressão: 
O ator não deve agredir gratuitamente outro ator, nem o ambiente de trabalho, nem a si próprio, nem os animais e nem a natureza em geral.
Não deve agredir fisicamente, nem por palavras, atitudes ou pensamentos.
Permitir que se perpetue uma agressão, podendo impedí-la e não o fazendo, é acumpliciar-se no mesmo ato.
Ouvir uma acusação ou difamação e não advogar em defesa do acusado indefeso por ausência, constitui confissão de conivência.
Mais grave é a agressão por palavras, atitudes ou pensamentos cometida contra um outro ator.
Inescusável é dirigir tal conduta contra um professor, ou diretor, ou alguém com maior hierarquia que você dentro de um grupo de estudos, trabalho ou mesmo uma cia de teatro.
Sumamente condenável seria, se um procedimento hostil fosse perpetrado por um professor/ diretor contra um de seus pares.


Preceito Moderador:

A observância deste código ético, não deve induzir à passividade. O ator não pode ser passivo. Deve defender energicamente os seus direitos e aquilo que acredita. O segredo de tudo está na forma de falar ou agir, e principalmente no respeito ao demais colegas de profissão.

A verdade:
O ator não deve fazer uso da inverdade, seja ela na forma de mentira, seja na forma de equívoco ou distorção na interpretação de um fato, seja na omissão perante uma dessas duas circunstâncias.
Consequentemente, ouvir boatos e deixar que sejam divulgados é tão grave quanto passá-los adiante.
O boato mais grave é aquele que foi gerado com boa-fé, por falta de atenção à fidelidade do fato comentado, já que uma inverdade dita sem más intenções, tem mais credibilidade.
Emitir comentários sem o respaldo da verdade, sobre fatos ou pessoas, expressa inobservância à norma ética.
Exercer o ofício de professor de interpretação sem ter formação específica, ou sem ter a experiência necessária constitui ato ilegítimo.

Preceito Moderador:
A observância desta norma ética não deve induzir à falta de tato ou caridade, sob o pretexto de ter que dizer sempre a verdade. Há muitas formas de expressar a verdade.

Não Roubar:
Parece óbvio, mas vamos lá: O ator não deve se apropriar de objetos, ideias, créditos ou méritos que sejam devidos de outrem.
É patente que, ao fazer uso em suas aulas de interpretação, no palco, na tv, em cena, em entrevistas a órgãos de comunicação e em textos escritos ou gravados de frases, definições, conceitos, métodos ou símbolos de outro artista, seu autor seja sempre honrado através da citação e/ou direito autoral, conforme o caso.

Preceito Moderador:
A opulência sem responsabilidade social é um roubo tácito.

Desapego
O ator não deve ser apegado aos seus objetos de cena ou figurinos. Pois num grupo de trabalho, todos podem e devem emprestar suas coisas, se necessário, para que a obra final possa ser bem feita. A união faz a força.
Os ciúmes e a inveja são manifestações censuráveis do desejo de posse de pessoas e de objetos ou realizações pertinentes a outros.

Preceito moderador:
A observância deste código não deve induzir à displicência para com as propriedades confiadas à nossa guarda, nem à falta de zelo para com as pessoas que queremos bem.

Limpeza:
O ator deve se purificar tanto externa quanto internamente.
O banho diário, a higiene da boca e dos dentes. Nada melhor do que se trabalhar ao lado de um colega de cena perfumado e com bom hálito. E sem chulé.
Após cenas fortes e difíceis o ator deve saber “se limpar” destas emoções pesadas e as técnicas do Yôga ajudam bastante nisso. Para que o ator não leve para casa essa energia pesada da cena que o envolveu.
De pouca valia é lavar o corpo por fora e mesmo por dentro se a pessoa ingere alimentos com elevadas taxas de toxinas e impurezas. Nós somos o que comemos.
Da mesma forma, o ator trabalhará e renderá muito melhor se estiver totalmente lúcido e com uma taxa elevada de entrega para seus personagens. Cumpre que o ator não faça uso de substâncias intoxicantes antes de exercitar-se no teatro ou antes de entrar em cena na TV ou em qualquer tipo de trabalho artístico. Para que saiba de forma consciente chegar em determinada emoção em cena e sair dela de forma confortável. Nenhuma substância que gere dependência explícita ou que alterem o estado de consciência são bem vindas, ainda que tais substâncias sejam naturais.
Na vida, no dia-a-dia do ator, quanto mais “Limpo” ele se mantém de determinadas substâncias mais consciência terá para render de forma mais coerente também em seu trabalho, equilibrando o lado profissional artístico com o administrativo, sério e competente. Um ator só é completo e bem realizado se consegue ter este senso de equilíbrio também com tudo o que faz na sua vida. Inclusive na forma de relacionar-se com as pessoas ao seu redor, algo que a utilização de qualquer droga lícita ou ilícita influencia e muito. Grande parte dos artistas possuem problemas com substâncias tóxicas. Pois o excesso de sensibilidade nos artistas é bem visto em determinados momentos, mas essa consciência pode ser captada também de forma clean e muito mais saudável. Buscando aprimora-se e evoluir sempre, respeitando seu corpo.
Em cena tudo é energia. Portanto aquele que só trata da higiene física não está cumprindo esta norma ética. Esta recomendação só está satisfatoriamente interpretada quando se exerce a prática da limpeza interior. Ser limpo psíquica e mentalmente constitui requisito imprescindível.
Ser limpo interiormente compreende não alimentar seu psiquismo com imagens, ideias, emoções ou pensamentos intoxicantes. Se em cena a personagem pede isso, que isso se faça somente no momento da cena, e após dela, na vida real o ator saiba separar as coisas. Tentando ter consciência e eliminando pensamentos intoxicantes tais como, tristeza, impaciência, irritabilidade, ódio, ciúmes, inveja, cobiça, derrotismo e outros sentimentos inferiores.
Finalmente, esta norma atinge sua plenitude quando a limpeza do ator reflete-se no seu ambiente, cujas manifestações mais próximas são sua casa, e seu local de trabalho. Sempre limpo e organizado.


Preceito Moderador:

A observância dessa norma não deve induzir à intolerância contra aqueles que não compreendem a higiene de forma tão abrangente.

Contentamento:
O ator deve cultivar a arte de extrair contentamento de todas as situações.
O contentamento e sua antítese, o descontentamento, são independentes das circunstâncias geradoras. Surgem, crescem e cingem o indivíduo apenas devido à existência do gérmen desses sentimentos no âmago da personalidade.
O ator deve manifestar bastante contentamento em relação aos seus colegas, e toda equipe de trabalho, e expressar isso através da solidariedade e apoio recíproco.
O ator deve estar contente com o diretor, ou Mestre de teatro que escolheu, quando se trata de uma cia. Pois se não está contente, é porque não o escolheu, então não faz sentido estar na cia de teatro deste diretor.

Preceito Moderador:

A observância desta norma não deve induzir à acomodação daqueles que usam o pretexto do contentamento para não se aperfeiçoar.

Auto-Superação
O ator deve observar constante esforço sobre si mesmo em todos os momentos.
Esse esforço de auto-superação consiste numa atenção constante no sentido de fazer-se melhor a cada dia e aplica-se a todas as circunstâncias.
O cultivo da humildade e o da polidez constituem demonstração de auto-superação.
Manter a disciplina de praticar diariamente o que se estuda. Conter o impulso de expressar comentários maldosos sobre terceiros também é compreendido como correta interpretação dessa observância.

Preceito Moderador:

Isso não deve induzir ao fanatismo nem à repressão.

Auto-Estudo
O ator deve buscar o auto conhecimento mediante a observação de si mesmo.
O bom convívio com seu diretor e seus professores ou mestres, é o maior estímulo ao auto-estudo.
O auto-estudo deve ser praticado ainda mediante a sociabilidade, o alargamento do círculo de amizades e o aprofundamento do companheirismo.

Preceito Moderador:

A observância desta norma ética não deve induzir à alienação do mundo exterior nem à adoção de atitudes que possam levar a comportamentos estranhos ou que denotem desajustes da personalidade.

Auto-Entrega
O ator deve estar sempre interiormente seguro e confiante em que a vida segue o seu curso, obedecendo a leis naturais e que todo esforço para a auto-superação deve ser conquistado sem ansiedade.
Durante o empenho da vontade e da dedicação a uma empreitada, a tensão da expectativa deve ser neutralizada por esta prática. Ou seja, “desencanar”.
E por muitas vezes na vida devemos refletir sobre a frase: “Você quer ser feliz ou quer ter razão?” Às vezes vale mais relaxar e curtir o momento seja ele como for, do que ficar reclamando o tempo todo.
Quando a consciência está tranquila por ter tentado tudo e ainda assim não se haver conseguido o resultado ideal; quando a pessoa está literalmente impossibilitada de obter melhores consequências, esse é o momento de entregar o fruto das suas ações a uma vontade maior que a sua, cujos desígnios muitas vezes são incompreensíveis.

Preceito Moderador:

A observância desta norma não deve induzir ao fatalismo nem à displicência.

Conclusão

O amor e a tolerância são pérolas que enriquecem os mandamentos da nossa ética. Que este código não seja causador de desunião. Não seja ele usado para fins de patrulhamento ideológico, discriminação, manipulação nem perseguição. Nenhuma penalidade seja imposta por nenhum grupo aos eventuais descumpridores destas normas. A eles lhes bastará a desventura de não usufruir do privilégio de vivenciá-las.


Texto escrito pela atriz Tha Lopes, inspirado no Yôga Sútra de Pátañjali, intitulado “Código de ética do Yôga”, que foi traduzido e publicado no Livro “Tratado de Yôga” pelo Prof. DeRose, página 799, 45ª Edição. Para conhecer o Código completo, e original, leia o texto no livro citado acima, ou no link:


http://www.metododerose.org/blogdoderose/filosofia/codigo-de-etica-do-yogin-extraido-do-livro-tratado-de-yoga/

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