Pausa para Expressões sobre a 16 Edição do Esforço Cultural: I Encontro de MUlheres Artístas

Participante do I Encontro de Artista: Vanessa Trajano
Profissão: Escritora
Texto de Vanessa Trajano: UM PROJETO EM PROL DE UMA VIDA ARTÍSTICA

Em um dia qualquer cheio de todos os rituais as quais somos submetidos para manter a rotina em santa paz recebi um convite inusitado de uma personalidade notável da cultura piauiense com a qual nunca havia conversado antes. A janelinha do bate-papo subiu e em forma de texto vi uma das surpresas mais agradáveis que tive nos últimos tempos.
Senti-me convocada, pois de cara me identifiquei com a finalidade do evento: reunir as artistas da cidade para debater o seu papel e o seu legado na cultura. Lisonjeada, logo confirmei a minha presença, apesar da morbidez instalada em mim e que quase me fez desistir. E quando eu cheguei lá soube por que andava tão down.
Um dos primeiros questionamentos levantadas na palestra da Sandra Loiola foi: “por que estou ausente do lugar que me cabe: o palco?” Isso mexeu profundamente comigo, pois não é uma questão tão simples assim. Há uma série de fatores externos que nos levam a caminhar no oposto do que realmente queremos, e o pior: sem percebermos. Se não nos monitoramos é capaz de qualquer dia desses nós, mulheres artistas, talentosas e sensíveis estarmos presas a cadeiras de escritório, se preocupando apenas com o alimento da matéria. Não que essa profissão não seja digna, ela é; muito nobre aqueles que mantém a ordem de grandes empresas e dos estabelecimentos comercias. No entanto me refiro ao fato de que os artistas não vieram ao mundo pra isso. A arte, além da sua missão estética é uma missão de caráter, e no mais das vezes ela pode até vir a ser embrionária. Bom, questão de nascença ou não isso definitavamente não importa. O que não podemos é deixar morrer a força inquietante expelida de nossas emoções mais íntimas e contestadoras.
E esse é o intuito do projeto Magdalena apresentado pela Sandra ao longo do seu discurso. O projeto tem como objetivo justamente realizar esse intercâmbio entre as artistas e assim enriquecer, através da confiável troca de experiências, as produções das mulheres na arte. A proposta foi convincente, além de ousada e sedutora. Por que não reunir mulheres com tanto a contribuir para dividirem sua dimensão de mundo e fazer com que elas juntas colaborem no fazer artístico? Cada uma tem a sua técnica e o seu modo de fazer, e isso não significa dizer que não se tenha curiosidade de conhecer o trabalho da outra. A ideia é de soma, não de subtração.
               Parece bom o bastante, tanto quanto um sonho. Que a nossa empolgação inicial não se transforme em cinza, vencida, pois, pelas arbitrariedades da vida. Mas que possamos provocar, seja com qual linguagem for, a realização da nossa arte.
               Eu e minhas colegas aceitamos o desafio. Nos tornamos parceiras em prol de uma paixão maior do que nós, aquilo que nos alimenta a qualquer hora e em todo espaço. E quando digo minhas colegas não me refiro apenas as aprezes, pois a Sandra teve a percepção de que era preciso quebrar a barreira existente entre os gêneros artísticos. Aqui, a musicista irá compor, tocar ou cantar; a dançarina brilhará com os seus passos não somente num espetáculo de dança. A escritora tomará nota de tudo e não permitirá que esse momento caia no esquecimento. A fotógrafa eternizará os instantes mais belos; a artista plástica repassará suas emoções na tela e todo o mais será convergido numa única corrente. No nosso encontro a discussão foi ampliada para outros gêneros e essa não delimitação do tema trouxe-nos a oportunidade de conhecer a compreensão da arte sobre outras linguagens.
              Honestamente não sei aonde chegaremos, ainda está muito cedo para previsões. Eu particularmente tenho medo de que novas pessoas entrem na minha vida porque já fico com pensa em saber que dificilmene coligações duram uma vida inteira, e perder amizades para a força do tempo sempre é um sofrimento. Entretanto eu me jogarei nessa por acreditar na verdade e no amor que esse projeto carrega. Eu não sei o que vai ser de nós, mas desejo todas as boas energias do mundo, porque vamos precisar. A batalha é longa, é nossa, é vital. Que se dane quem achar que não vai dar certo. Há 28 anos na fecundação do projeto num café italiano alguém Poe ter achado a mesma coisa e olha só aonde o Magdalena chegou: disseminada em diversos países! Nós, brasileiras, piauienses e artistas vamos fazer a nossa parte. A mulher tem que falar, a arte tem que acontecer, porque a vida está aí, derrubando esperanças e sonhos. Está na hora de interferirmos e gritar juntas o quão importante é a nossa arte e quais os seus benefícios para quem espera ser resgatado do marasmo, assim como eu fui ao receber o convite da Sandra.  Muito obrigada. Desde já aguardo o próximo encontro. E mãos a massa!

The, 22/05/2014
Vanessa Teodoro Trajano

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